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Amar é um pouco mais que isso

Amar é ter a certeza de que você vai acordar e vai encontrar uma mensagem de "bom dia". É tomar um banho e passar o melhor perfume sabendo que vai agradar. É não se importar em não comprar coisas para você, sabendo que pode presentear e agradar aquela pessoa. É confiar em dizer "que filme vamos assistir?" e ter a certeza que não importa qual o filme, o que importa é a companhia.

É dar e receber. É a famosa via de mão dupla. É ter vontade de ligar e também ter vontade de atender. É saber que você precisa do seu tempo sozinho e que a pessoa também precisa do dela, mas entender que em alguns momentos, você precisa ficar perto e mesmo assim, saber que a pessoa é livre para querer ficar perto.

É saber abrir espaço na agenda, abrir espaço nos dias, abrir espaço no coração. É juntar os pedaços e os cacos. Da vida.

Amar é a chance de entender que é possível ser maior. Que você pode agregar momentos, situações e claro, agregar uma vida.

É a necessidade de encontrar um pedacinho de felicidade em outra pessoa, e com isso, compartilhar com a ela a felicidade que já vive em você. Diferente do que se imagina, a felicidade não mora nos outros, mas fica muito maior quando é possível somar.

É aceitar as diferenças, é aceitar que você prefere feijão preto e a pessoa não. É saber o dia de andar de bicicleta e o dia de assistir Netflix. É contar a mesma história várias vezes e ouvir a mesma história várias vezes.

É ter a certeza de que você consegue ficar muito bem só, mas que é muito melhor junto.






Desvaneios nortunos

A gente sente. Sente quando a fome aperta, sente quando o frio chega, sente quando a vontade aparece. A gente sente. Sente quando o sono acaba, sente quando a dor vai embora, sente quando o sabor agrada. A gente sente. Sente quando não quer mais, sente quando o limite vem, sente quando é pra ver. A gente sente. Sente quando tem que estudar, sente quanto tem que parar, sente quando não sente mais.



E esse é o problema. Não sentir. 

A tristeza faz parte, querida



Quero dizer que sempre fugi dela. Sempre me agarrei a momentos felizes, e muitas vezes, posterguei situações que não me faziam bem simplesmente por me apegar nesses momentos que um dia me fizeram sorrir. 
Não é por aí.

Tive, por muitos anos, a mania tola de acreditar que momentos felizes podiam servir para esquecer momentos tristes. Tentei na minha vida, em relacionamentos, situações, momentos, me apegar em um instante de felicidade que já havia passado para evitar o fim que estava no presente, por medo da tristeza.

Descobri o quão tola, infantil e imbecil eu era. A felicidade é sim, adorável. É um sentimento que todo mundo busca sentir, diariamente. Mas a felicidade, diferente da tristeza é extremamente momentânea. 

Você pode ser triste diversos dias, mas feliz, não. 

Não estou querendo parecer pessimista, ou alguém que não acredita na felicidade plena, mas é um fato. Se todo mundo fosse feliz o tempo todo, quem iria buscar a felicidade? Ninguém. Felicidade que se faz presente o tempo todo deixa de ser notada. A gente só busca o que a gente - acha - que não tem.

A tristeza é diferente. A tristeza faz um lar. Ela te acompanha e é aí que mora o perigo. O costume com a tristeza faz esquecer o que é felicidade. Eu, que sempre fugi dela, com unhas e dentes, posso dizer isso. Fugia, da forma mais tola possível. Ela batia na minha porta e puxava a cadeira. Tomava um café e ficava pro jantar. Surpresa inesperada e indesejada. Mas, sempre que partia, deixava um bilhetinho na minha geladeira. "Olha, você está no caminho certo, agora, vai aprender um pouco mais com a minha ausência", e ela estava certa. 
Ela partiu muitas vezes e sempre voltava. Em períodos distintos e por mais que relutasse, ela estava lá. 

E eu aprendi... Aprendi que a tristeza faz parte dos nossos dias tanto quanto a felicidade. 
Que a gente cresce, mesmo com muita dor, mas cresce.

Vinícius de Moraes disse uma vez: "mas para fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza". 

Ah, Vinícius... Você nunca esteve tão certo.



*imagem de artista desconhecido